O caminho do profeta
Em 9,51, Lucas nota que Jesus, indo para Jerusalém, endurece o rosto (tò prostopou aùtoû), diferente da tradução comum: tomou resolutamente o caminho para Jerusalém. A expressão tem referência ao servo sofredor (Is 50,7) e também os profetas endurecem seu rosto para falar a Israel, prevendo as reações do povo (Ez 6,2; 13,17; 14,8; 16,7b; Jr 21,10). O versículo 9,51 representa assim uma alusão à identidade de profeta que Jesus atribui a si mesmo. Também Lc continua a considerar Jesus como um profeta (13,33).
Um caminho de submissão
Em alguns pontos da seção, Lucas destaca que é preciso, é necessário (deîn) (9,22; 13,33; 17,25; 22,37; 24,7.26.44) , que Jesus vá a Jerusalém e enfrente a paixão. A frase está sempre colocada na boca de Jesus e isso indica sua importância. Além de frisar a decisão irrevogável de Jesus de ir para Jerusalém, indica a necessidade de ele se submeter ao plano de Deus que deve se cumprir em conformidade com a revelação do AT.
A viagem do discípulo
Nos dez capítulos, o discípulo está ao lado do Mestre. Não é só Jesus que realiza seu êxodo, mas também o discípulo junto com ele.
. a seção começa com três episódios de seguimento (9,57-62). Caminho duro e prontidão incondicional: Jesus exige do discípulo que quer ir atrás dele;
. 14,25, por meio do verbo viajar com, Lc destaca que o discípulos viaja com ele;
. 19,28: Jesus caminha à frente e os discípulos vêm atrás dele.
Também os discípulos devem percorrer o caminho da cruz para chegar à glória.
A função didática da viagem
Como o discípulo deve caminhar com Jesus, o material apresentado por Lc é parenético. O evangelista quer indicar quais são as linhas básicas da genuína existência segundo o evangelho, dando-lhe orientações concretas. Os próprios milagres são, às vezes, relatados em função da exortação que Jesus proporciona aos fiéis (13,18; 17,12-19).
. Caridade fraterna e necessidade de se fazer próximo aos demais (10,25-37);
. Importância da oração (11,1-13; 18,1-8) e da humildade diante de Deus (18,9-14);
. Oferecer um testemunho autêntico de fé que brote do coração (12,1-12);
. Valor do abandono à providência de Deus (12,13-48);
. Exorta o uso correto da riqueza (12,13-31; 16,1-31; 18,18-30; 19,1-10);
. Apela para a vigilância (12,35-48), convidando a fazer penitência (13,1-9);
. Lembra o amor misericordioso de Deus que acolhe os pecadores (15,1-32);
. Valor da vida comunitária, que exige a eliminação dos escândalos, a correção fraterna, o serviço desinteressado (17,1-10);
. Importância de tomar uma decisão séria devido à proximidade do juízo escatológico (12,54-57; 13,9.23-30; 14,15-24; 17,26-37; 19,11-27).
. Convite a quem quiser, renunciar a si mesmo, tomar sua cruz cada dia (9,23).
Em muitos trechos a linguagem de Jesus é dura e exigente, pedindo ao discípulos a oferta total de si mesmo.
Alberto CASALEGNO
Lucas – A caminho com Jesus missionário
São Paulo, Loyola, 2003, p.129-137.
Um olhar panorâmico – Caminho para Jerusalém
Dois sumários frisam o motivo do caminho de Jesus para a cidade sagrada. Neles, como no começo da seção (9, 51), se encontra o termo Jerusalém.
. 13,22: Jesus atravessava cidades e aldeias, ensinando e encaminhando-se para Jerusalém.
. 17,11: Como ele se encaminhasse para Jerusalém, passava através da Samaria e Galiléia.
À luz desse elemento literário, pode-se fazer uma divisão em três partes:
. 9,51-13,21: a atuação dos discípulos na fidelidade a Jesus;
. 13,22-17,10: o grande projeto de Deus;
. 17,11-19,44: a espera escatológica.
A primeira parte: a atuação dos discípulos na fidelidade a Jesus (9,51-13,21)
1.1. A missão (9,51-11,13)
. o objeto é a missão e os requisitos mais importantes para seu desenvolvimento.
. 10,1-12: relato do envio dos setenta e dois, em paralelo com os doze de Mt e a elaboração do material da fonte Q. Destaca a dimensão universal da missão (72). Apesar da recusa das cidades do lago (10,13-16), os enviados se alegram pelo êxito da missão que destrói o poder satânico (v.17-20) e Jesus se rejubila porque os pequeninos acolhem o anúncio (v.21-24).
. A exortação à caridade (v.25-37), à necessidade de escuta da palavra (v.38-42) e confiança na oração (11,1-13);
1.2. A legitimidade do ministério de Jesus (11,14-12,12)
. Jesus expulsa o demônio de uma pessoa muda (11,14-22);
. aparecem as multidões (11,14.29; 12,1), os fariseus (11,37; 12,1), os legistas (11,45), os escribas (11,53), que simbolizam os principados e as autoridades que perseguem os discípulos de todos os tempos (12,11).
. a atmosfera é sombria de condenação a essa geração (11,29-32) e contra os fariseus e legistas (11,27-54).
. exorta a aceitar a palavra (11,27-28) e a dar testemunho autêntico de fé (12,1-12).
1.3. A necessidade da conversão (12,13-13,21)
. refere-se mais aos discípulos: exortação à conversão, procurar o reino de Deus em primeiro lugar (12,22-32.33-34), profundo respeito para os súditos (12,35-48), fazer obras de discernimento (12,54-59), sinceridade na conversão (13,1-5), confiar na paciência de Deus (13,6-9);
. apesar da dureza do coração humano, o reino de Deus tem em si uma força de transformação da realidade (13,1-21).
Segunda parte: o grande projeto de Deus (13,22-17,11)
2.1. Jesus instrumento do plano salvífico de Deus (13,22-35): abre-se uma perspectiva da universalidade da salvação, para finalizar com a afirmação de que Jesus é o profeta de Deus recusado pelos homens e destinado à morte – instrumento para realizar o plano de salvação.
2.2. O banquete do Reino (14,1-35)
. Jesus é o enviado de Deus que elimina o mal (v.1-6);
. dá conselhos práticos para os comensais (v.7-11) e para os anfitriões (v.12-14);
. pela parábola: o reino não pode ser frustrado pela recusa humana (v.15-24);
. apresenta as condições para ser verdadeiro discípulo (v.25-35).
2.3. A ação amorosa de Deus e os critérios de escolha (15,1-17,11).
O tema central é o amor de Deus pelos pecadores e marginalizados (Lc 15; 16,1-13).
. Critérios de discernimento para se comportar corretamente perante as riquezas (16,1-13). O texto não é homogêneo e aparecem vários ditos isolados de Jesus (17,1-10).
Terceira parte: a espera escatológica (17,11-19,44)
3.1. A vinda do Filho do Homem (17,11-18,30)
3.2. O reconhecimento de Jesus como Salvador (18,31-19,27)
3.3. A glorificação real de Jesus (19,28-44)
Sintetizando
Essa seção tem um caráter fragmentário e as perspectivas parenéticas, cristológicas e eclesiológicas se entrelaçam. A reflexão sobre o Reino instaurado por Jesus parece ser uma característica específica da seção.
Em 9,51, Lucas nota que Jesus, indo para Jerusalém, endurece o rosto (tò prostopou aùtoû), diferente da tradução comum: tomou resolutamente o caminho para Jerusalém. A expressão tem referência ao servo sofredor (Is 50,7) e também os profetas endurecem seu rosto para falar a Israel, prevendo as reações do povo (Ez 6,2; 13,17; 14,8; 16,7b; Jr 21,10). O versículo 9,51 representa assim uma alusão à identidade de profeta que Jesus atribui a si mesmo. Também Lc continua a considerar Jesus como um profeta (13,33).
Um caminho de submissão
Em alguns pontos da seção, Lucas destaca que é preciso, é necessário (deîn) (9,22; 13,33; 17,25; 22,37; 24,7.26.44) , que Jesus vá a Jerusalém e enfrente a paixão. A frase está sempre colocada na boca de Jesus e isso indica sua importância. Além de frisar a decisão irrevogável de Jesus de ir para Jerusalém, indica a necessidade de ele se submeter ao plano de Deus que deve se cumprir em conformidade com a revelação do AT.
A viagem do discípulo
Nos dez capítulos, o discípulo está ao lado do Mestre. Não é só Jesus que realiza seu êxodo, mas também o discípulo junto com ele.
. a seção começa com três episódios de seguimento (9,57-62). Caminho duro e prontidão incondicional: Jesus exige do discípulo que quer ir atrás dele;
. 14,25, por meio do verbo viajar com, Lc destaca que o discípulos viaja com ele;
. 19,28: Jesus caminha à frente e os discípulos vêm atrás dele.
Também os discípulos devem percorrer o caminho da cruz para chegar à glória.
A função didática da viagem
Como o discípulo deve caminhar com Jesus, o material apresentado por Lc é parenético. O evangelista quer indicar quais são as linhas básicas da genuína existência segundo o evangelho, dando-lhe orientações concretas. Os próprios milagres são, às vezes, relatados em função da exortação que Jesus proporciona aos fiéis (13,18; 17,12-19).
. Caridade fraterna e necessidade de se fazer próximo aos demais (10,25-37);
. Importância da oração (11,1-13; 18,1-8) e da humildade diante de Deus (18,9-14);
. Oferecer um testemunho autêntico de fé que brote do coração (12,1-12);
. Valor do abandono à providência de Deus (12,13-48);
. Exorta o uso correto da riqueza (12,13-31; 16,1-31; 18,18-30; 19,1-10);
. Apela para a vigilância (12,35-48), convidando a fazer penitência (13,1-9);
. Lembra o amor misericordioso de Deus que acolhe os pecadores (15,1-32);
. Valor da vida comunitária, que exige a eliminação dos escândalos, a correção fraterna, o serviço desinteressado (17,1-10);
. Importância de tomar uma decisão séria devido à proximidade do juízo escatológico (12,54-57; 13,9.23-30; 14,15-24; 17,26-37; 19,11-27).
. Convite a quem quiser, renunciar a si mesmo, tomar sua cruz cada dia (9,23).
Em muitos trechos a linguagem de Jesus é dura e exigente, pedindo ao discípulos a oferta total de si mesmo.
Alberto CASALEGNO
Lucas – A caminho com Jesus missionário
São Paulo, Loyola, 2003, p.129-137.
Um olhar panorâmico – Caminho para Jerusalém
Dois sumários frisam o motivo do caminho de Jesus para a cidade sagrada. Neles, como no começo da seção (9, 51), se encontra o termo Jerusalém.
. 13,22: Jesus atravessava cidades e aldeias, ensinando e encaminhando-se para Jerusalém.
. 17,11: Como ele se encaminhasse para Jerusalém, passava através da Samaria e Galiléia.
À luz desse elemento literário, pode-se fazer uma divisão em três partes:
. 9,51-13,21: a atuação dos discípulos na fidelidade a Jesus;
. 13,22-17,10: o grande projeto de Deus;
. 17,11-19,44: a espera escatológica.
A primeira parte: a atuação dos discípulos na fidelidade a Jesus (9,51-13,21)
1.1. A missão (9,51-11,13)
. o objeto é a missão e os requisitos mais importantes para seu desenvolvimento.
. 10,1-12: relato do envio dos setenta e dois, em paralelo com os doze de Mt e a elaboração do material da fonte Q. Destaca a dimensão universal da missão (72). Apesar da recusa das cidades do lago (10,13-16), os enviados se alegram pelo êxito da missão que destrói o poder satânico (v.17-20) e Jesus se rejubila porque os pequeninos acolhem o anúncio (v.21-24).
. A exortação à caridade (v.25-37), à necessidade de escuta da palavra (v.38-42) e confiança na oração (11,1-13);
1.2. A legitimidade do ministério de Jesus (11,14-12,12)
. Jesus expulsa o demônio de uma pessoa muda (11,14-22);
. aparecem as multidões (11,14.29; 12,1), os fariseus (11,37; 12,1), os legistas (11,45), os escribas (11,53), que simbolizam os principados e as autoridades que perseguem os discípulos de todos os tempos (12,11).
. a atmosfera é sombria de condenação a essa geração (11,29-32) e contra os fariseus e legistas (11,27-54).
. exorta a aceitar a palavra (11,27-28) e a dar testemunho autêntico de fé (12,1-12).
1.3. A necessidade da conversão (12,13-13,21)
. refere-se mais aos discípulos: exortação à conversão, procurar o reino de Deus em primeiro lugar (12,22-32.33-34), profundo respeito para os súditos (12,35-48), fazer obras de discernimento (12,54-59), sinceridade na conversão (13,1-5), confiar na paciência de Deus (13,6-9);
. apesar da dureza do coração humano, o reino de Deus tem em si uma força de transformação da realidade (13,1-21).
Segunda parte: o grande projeto de Deus (13,22-17,11)
2.1. Jesus instrumento do plano salvífico de Deus (13,22-35): abre-se uma perspectiva da universalidade da salvação, para finalizar com a afirmação de que Jesus é o profeta de Deus recusado pelos homens e destinado à morte – instrumento para realizar o plano de salvação.
2.2. O banquete do Reino (14,1-35)
. Jesus é o enviado de Deus que elimina o mal (v.1-6);
. dá conselhos práticos para os comensais (v.7-11) e para os anfitriões (v.12-14);
. pela parábola: o reino não pode ser frustrado pela recusa humana (v.15-24);
. apresenta as condições para ser verdadeiro discípulo (v.25-35).
2.3. A ação amorosa de Deus e os critérios de escolha (15,1-17,11).
O tema central é o amor de Deus pelos pecadores e marginalizados (Lc 15; 16,1-13).
. Critérios de discernimento para se comportar corretamente perante as riquezas (16,1-13). O texto não é homogêneo e aparecem vários ditos isolados de Jesus (17,1-10).
Terceira parte: a espera escatológica (17,11-19,44)
3.1. A vinda do Filho do Homem (17,11-18,30)
3.2. O reconhecimento de Jesus como Salvador (18,31-19,27)
3.3. A glorificação real de Jesus (19,28-44)
Sintetizando
Essa seção tem um caráter fragmentário e as perspectivas parenéticas, cristológicas e eclesiológicas se entrelaçam. A reflexão sobre o Reino instaurado por Jesus parece ser uma característica específica da seção.
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